E hoje amanheci com muita dor. No ombro esquerdo do cotovelo e punho operados, que ficou meio que imprestável depois da cirurgia. Não posso descansar nada nele que gera dor e desconforto, até no manuseio menos esforçoso. Como o de laçar o meu cordãozinho cafona com o adorável pingente de marcassita com pedrinha verde. Adoro marcassita. Não sei se pelo tom ou pelo nome tão exótico. O fato é que meu favorito. Não considerando as pérolas, uma paixão. Mas voltemos a dor.
Aconteceu ontem de viajar num trem muito lotado e um rapaz, e penso que maldosamente, sobrepôs braço dele no meu ombro para se firmar no ferro e empurrou com força. Incomodou tanto que deixei meu lugar e ele o ocupou. Um lugar até privilegiado. Como o que estou agora aqui no trem. Viajo sempre encostadinha para proteger o cotovelo fraturado. Mas ontem descobriram meu segredo e me acossaram. Exatamente assim me senti. Acossada.
Na verdade não posso afirmar que ele agiu intencionalmente já que não sou onisciente. Mas partindo do princípio elementar da educação e gentileza, penso que sim. Não foi nada educado sua força sobre mim.
Sobre, e por isto, meu pensamento vagueiou pelo conceito de maldade. Mas antes informo que antes de sair de casa tomei um comprimido de Dorflex que já faz prevalecer seu efeito sobre a dor do ombro, mas n~o do meu estômago que sofre uma azia e dor que provoca enjoos. Assim fica a dica, não o tome se padece de gastrite como eu. Como queria um efeito certeiro o escolhi. É ótimo para dores musculares. Só não amenizou a inquietação sobre a maldade.
Sou maldosa.
Sei que sou.
Minha maldade, todavia, não chega ao extremo de se opor às minhas delicadeza e gentileza. Fica mais na inquietude complexa de meus pensamentos. Mas como dizem que só de pensar já pecamoss, estou repleta deles. O que me salva é que meu coração me constrange ao arrependimento. Demora, por vezes, mas se manifesta.
Seria a maldade apenas uma ação tresloucada com consequências atrozes, irremediáveis e catastróficas? Ou uma ausência de qualquer vestígio de bondade e gentileza no cotidiano nas mais comuns das singularidades?
Considero, em mim, toda essa ausência de cuidado no meu dia a dia, já como aceno de maldade.
E ontem, conversando pelo zapzap alguém me dizia que uma coisa é o que falamos e outra é a atitude.
E então respondi que é no dia a dia que as palavras ditas se explicam.
E no dia a dia a ausência de uma bondade, que nada mais é do que o olhar sobre o outro ou alguma coisa, configura uma maldade.
A minha maldade é isenta de balas e fanatismo, mas pode ferir irreversivelmente tanto ou mais quanto.
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