" Os tempos modernos e a antiguidade concordam num ponto: ambos encaram a compaixão como algo totalmente natural, tão inevitável para o homem quanto, digamos, o medo. Portanto, é ainda mais surpreendente que a antiguidade tenha assumido uma posição totalmente diferente do grande apreço pela compaixão nos tempos modernos. Por reconhecerem tão claramente a natureza afetiva da compaixão, que pode nos dominar como o medo, sem que possamos resistir a ela, os antigos consideravam a pessoa mais compassiva não mais autorizada a ser tida como a melhor do que a mais medrosa. Ambas as emoções, por serem puramente passivas, impossibilitam a ação. E por isso que Aristóteles tratava a compaixão e o medo juntos. No entanto, seria totalmente equivocado reduzir a compaixão ao medo -- como se os sofrimentos de outros suscitassem em nós medo por nós mesmos -- ou o medo à compaixão -- como se, no medo, sentíssemos apenas compaixão por nós próprios. Surpreendemo-nos ainda mais quando ouvimos (de Cícero em Tusculanea disputationes, III, 21) que os estóicos consideravam a paixão e a inveja nos mesmos termos: " Pois o homem que sofre com a infelicidade de outro sofre também com a prosperidade de outro" . O próprio Cícero se aproxima consideravelmente do núcleo da questão quando indaga (ibid., IV, 56): "Por que a piedade ao invés de dar assistência, se possível? Ou somos incapazes de ser generosos sem piedade?". Em outras palavras, seriam os seres humanos tão mesquinhos a ponto de serem incapazes de agir humanamente, a menos que se sintam instigados e por assim dizer compelidos pela sua própria dor, ao ver outros sofrerem?"
Hannah Arendt
pág 23
Companhia de Bolso
Hoje, depois de dias sem pegar no meu livrinho querido, li um pouco na condução indo para São Conrado e esse parágrafo me alvoraçou, principalmente as ultimas linhas. E logo o associei com comoção dos últimos dias sobre os sírios que fogem da guerra e tudo mais. E lembrei-me de Gaza. E do Estado Islâmico...e tantos outros que sofrem e que sequer chegam nos noticiários.
O que faremos depois que os noticiários deixarem de nos informar sobre o sofrimento do sírios e demais?
Qual a próxima tragédia que terá que acontecer para que nossa comoção volte as primeiras páginas de nossas redes sociais? E nem sei se posso considerar isso ruim, pois de alguns nem chega.
Enfim...
sobre tudo, eu nada sei.
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