“ Um livro precisa
antes de uma história, de um sentimento
que o preceda e o defina” ds
Ao leitor
Martha Calderaro
Descobri Marguerite de Yourcenar em Paris, em 1962, através
deste livro monumental, elaborado, escrito e construído à maneira das antigas
catedrais, durante anos de trabalho, de pesquisas, de aprimoramento. Iniciado
em 1924 e concluído cerca de vinte e sete anos depois (1951), teve diversos
manuscritos destruídos , outros interrompidos para pesquisas mais profundas, e
outros anda abandonados durante crises
de desânimo diante da magnitude da obra. Nas horas de desencorajamento, a
autora visitava museus, consultava bibliotecas e sofria diante da obra
inacabada. Anotava, escrevia, reescrevia, recolhia dados, sedimentava
conhecimentos até absorver complementava a personalidade do Imperador Adriano e
considerar-se pronta para escrever as suas
memórias na primeira pessoa, num salto de dezoito séculos sobre o tempo.
Depois de adquirir o livro em Paris, de lê-lo a bordo do
France e relê-lo em Petrópolis, voltei à
Vila Adriana que havia visitado muitos anos antes. Levava comigo um só projeto:
cobrir os passos de Adriano e Yourcenar
como um trabalho preparatório para traduzir o livro. Chegando ao Brasil,
escrevi nesse sentido à Casa Plon, então sua editora. Recebi a resposta de que
só poderiam tratar do assunto de editor para editor. Infelizmente, a obra de ó
poderiam tratar do assunto de editor para editor. Infelizmente, a obra de
Yourcenar era quase desconhecida aqui. Nenhum editor pensara em lançá-la. Foi
uma das maiores frustrações da minha
vida.
Em 1980, Marguerite Yourcenar torna-se a primeira mulher a
ser eleita para a Academia Francesa na vaga de Roger Cailois, consagração
máxima para a autora de 25 livros, para a “ grande dama da literatura”, como é
chamada pelos franceses.
Antes disso, porém, a
Nova Fronteira já havia adquirido os direitos de tradução dos livros dela. Ao
tomar conhecimento do fato, decidi disputar o privilégio de traduzir Memórias.
Pedi uma entrevista, contei minha história e apresentei o primeiro capítulo já
traduzido. No mesmo dia recebi a autorização para concluir a tradução, fato que
considero um prêmio.
Havia relido obra
inúmeras vezes. Logo, porém, compreendi que traduzi-la era coisa muita diversa.
Tratava-se quase de reescrevê-la, de recriar vivências, de penetrar a fundo na
sua grandeza num trabalho artesanal consciente e humilde. Dediquei-me à tarefa
com entusiasmo , e, ao concluí-la, estou segura de ter acrescentado enorme
enriquecimento existencial à minha vida.
Paradoxo, ou não, esta é uma obra de importância tão
transcendental, que poderia passar-se das palavras da tradutora, e ao mesmo
tempo é tão importante que não poderia ser entregue ao leitor sem que a
tradutora lhe houvesse falado do seu envolvimento e do seu esforço no sentido
de respeitar e de preservar linha por linha, palavra por palavra, toda a
verdade histórica contida no livro. Essencialmente, trata-se de uma forma de
respeito pelo leitor.
Para informação e
melhor compreensão dos fatos e lugares históricos, consultei a velha
enciclopédia dos meus velhos estudos e mais um total de sessenta e nove
volumes, além de um dezena de dicionários antigos, clássicos e atuais. Meu intuito , ou meu empenho, era ter a
certeza de estar certa e, sobretudo, de ser fiel ao espírito da obra, à autora
e ao personagem biografado. “ Biografado” sim. Por quê não? Digam o que
disserem, digam até que Adriano é Marguerite Yourcenar – o que não é verdade.
Esta é a História transformada em sentimento, sangue e vida. E em alma, porque a alma foi, acima de tudo, a suprema indagação de
Adriano, para além do amor e da paz que perseguiu, conquistou, e pelos quais
sofreu, viveu e morreu.
Martha Caderaro
“Memórias de Adriano”
Marguerite de
Yourcenar
Coleção grandes romances
Tradução de Martha
Calderaro
amo prefácios e nesse livro procurei por ele.
Não encontrei. Mas o que li nas laterais, que chamam de orelha do livro ou algo perto disso, me chegou ao coração como um daqueles magníficos que tanto admiro e que me enchem
de entusiamo pela obra, mesmo com conhecimento zero da autor.
Amei Martha Calderaro por tanto sentimento.
Quando ela fala de Marguerite Yourcenar e sua obra com paixão, já me faz sentir parte dela.
Prefácio é tudo.
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