A chuva hoje me prendeu em casa.
O ônibus que passa na estrada de minha residência, uma via muito importante de minha cidade, ficou interditada pelo excesso de barro e água por todo o dia.
Meu irmão que mora ao meu lado, ficou sem sua simplória casinha.
Desde a quinta passada quando ocorreu o primeiro temporal do mês, sua casa alagou e fez perdê-lo móveis.
Nosso terreno que não é murado pois passa um córrego que não pode ser manilhado, apenas barragem, o que nos tenho recursos para tal, alagou.
Nisso ficou na minha casa e organizou a sua para voltar no domingo a noite.
Voltou e hoje de madrugada teve que sair novamente as pressas. E agora retirou móveis que poderia perder numa nova enxurrada.
E volta para minha casa.
Enquanto não resolvemos como ajudá-lo, ficará aqui.
Na semana passada ele ficou muito tristinho e hoje quando me arrumava para ir ao trabalho e abri a porta da minha varanda dos fundos, ele estava lá de pé olhando para sua casa.
Acordei de madrugada com a forte chuva já alagando o terreno então liguei chamando-o para ficar conosco e ele disse não.
Depois a água foi tomando sua casinha e ele teve que vir. Mas para não incomodar ficou na varanda acordado até amanhecer.
Quanta timidez! Ele é assim.
Resistiu muito para tirar as coisas mais importantes da sua casa. Entendo seu sentimento.
As únicas casas que ele conheceu foi essa casa dos nossos pais (e que hoje moro e cuido como se fosse minha mesmo não sendo. É herança de todos irmãos e sempre me alertam sobre esse detalhe pois venho gradativa e esforçosamente cuidando e melhorando a casa não só por conservação/preservação, mas por um sentimento monstro de amor e gratidão por todos esses anos de acolhida e porto seguro), e essa que foi a casinha de meu tio Filinho, o tio mais amoroso e querido da família e o meu preferido, e casa essa que ele, meu e irmão se transferiu depois que saiu daqui uns bons anos atrás.
Portanto, são suas únicas e preciosas referências de lar. Por isso a relutância de deixar.
Nossa casa, a que elegemos nossa, faz parte de nosso processo de individuação. E Carl Jung relata isso preciosamente no seu lindo Memórias, Sonhos, Reflexões, no capítulo A Torre, págs.263 à 278.
Separei esse pedacinho significativo, dentre tantos:
O ônibus que passa na estrada de minha residência, uma via muito importante de minha cidade, ficou interditada pelo excesso de barro e água por todo o dia.
Meu irmão que mora ao meu lado, ficou sem sua simplória casinha.
Desde a quinta passada quando ocorreu o primeiro temporal do mês, sua casa alagou e fez perdê-lo móveis.
Nosso terreno que não é murado pois passa um córrego que não pode ser manilhado, apenas barragem, o que nos tenho recursos para tal, alagou.
Nisso ficou na minha casa e organizou a sua para voltar no domingo a noite.
Voltou e hoje de madrugada teve que sair novamente as pressas. E agora retirou móveis que poderia perder numa nova enxurrada.
E volta para minha casa.
Enquanto não resolvemos como ajudá-lo, ficará aqui.
Na semana passada ele ficou muito tristinho e hoje quando me arrumava para ir ao trabalho e abri a porta da minha varanda dos fundos, ele estava lá de pé olhando para sua casa.
Acordei de madrugada com a forte chuva já alagando o terreno então liguei chamando-o para ficar conosco e ele disse não.
Depois a água foi tomando sua casinha e ele teve que vir. Mas para não incomodar ficou na varanda acordado até amanhecer.
Quanta timidez! Ele é assim.
Resistiu muito para tirar as coisas mais importantes da sua casa. Entendo seu sentimento.
As únicas casas que ele conheceu foi essa casa dos nossos pais (e que hoje moro e cuido como se fosse minha mesmo não sendo. É herança de todos irmãos e sempre me alertam sobre esse detalhe pois venho gradativa e esforçosamente cuidando e melhorando a casa não só por conservação/preservação, mas por um sentimento monstro de amor e gratidão por todos esses anos de acolhida e porto seguro), e essa que foi a casinha de meu tio Filinho, o tio mais amoroso e querido da família e o meu preferido, e casa essa que ele, meu e irmão se transferiu depois que saiu daqui uns bons anos atrás.
Portanto, são suas únicas e preciosas referências de lar. Por isso a relutância de deixar.
Nossa casa, a que elegemos nossa, faz parte de nosso processo de individuação. E Carl Jung relata isso preciosamente no seu lindo Memórias, Sonhos, Reflexões, no capítulo A Torre, págs.263 à 278.
Separei esse pedacinho significativo, dentre tantos:
" As vezes como que me espalho pela paisagem e nas coisas, e vivo em cada árvore, no sussurro das vagas, nas nuvens, nos animais que vão e vem, e nos objetos. Nada há na torre que não tenha surgido e crescido ao longo dos decênios, nada a que eu não esteja ligado. Tudo tem sua história, que é também a minha história, e aqui há lugar para o domínio não espacial dos segundos planos.
Renunciei à eletricidade e acendo eu mesmo a lareira e o fogão. À tarde acendo os velhos lampiões . Não há água corrente; preciso tirá-lo do poço, acionando a bomba manual. Racho a lenha e cozinho. Esses trabalhos simples tornam o homem simples , e é muito difícil ser simples."
A vida é assim, como confirma o poeta lindo:
O correr da vida embrulha tudo.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
A vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
João Guimarães Rosa
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