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Minha gata Preta, Pretinha

A sensibilidade rara, extravagante e bela da querida  Martha no seu belo e abrangente  Caderno Aquariano, que acompanho no meu google reader.

Gatos nunca me deixaram a vontade e ainda não muito (quando tinha 13 anos foi arranhada por um e por tantas histórias perversas ouvidas a seu respeito), mas agora que viajo, melhor me pertenço ao universo junguiano  venho reconhecendo  sua beleza e desejo ter um algum dia.


Minha gata Preta, Pretinha:



Preta, quase 20 anos de vida
com doçura e encanto.
          Desde que me entendo por ser humano, andarilha neste planeta Terra, me vejo cercada de bichos, os mais inusitados. Identifico-me com eles, sou bicho. Sou mais particularmente identificada com os gatos. Sou pontualmente um bicho felino. Uma felina humana.
          Posso pensar no animal-bicho que desejar, é uma paixão visceral, não há exclusões. No meu imaginário circulam as mais variadas espécies; um zoológico de ampla extensão. Não conheço a África, entretanto, tigres, leões, leopardos, elefantes ou gazelas habitam minha fazenda interior. Nem posso conceber o deserto, entretanto viajo em camelos. Não há porque excluir animal que seja, nenhum. Todos fazem parte do meu extenso bestiário.
          É compreensível que animais pestilentos, que fazem parte do mundo ctônico, obscuros como os répteis, não sejam de meu interesse, e nem vou me deter com eles. Estão lá no fosso obscuro da criação. No obscuro reino de temores. Sendo que as serpentes me encantam, assim como os lagartos nas muralhas de Santa Teresa. Era possível andar sozinha pela estrada, caminhando da casa onde eu morava, até ao Silvestre apreciando estes animaizinhos, os voos das borboletas, a mata densa e beber água da fonte ao passar pelo Chororó. Pelas manhãs os pássaros a cantar melodias dionisíacas.
          Na infância galinhas, cabritos, patos e marrecos, cachorros ou cavalos me encantavam. O suíno achava estranhíssimo. Acompanhava os pássaros pelo canto em asas da liberdade. Por um tempo fiquei cuidando da tartaruga de uma amiga, e assim aprendi segredos insondáveis pelo seu andar com a paciência no tempo e reservas ao esconder a cabeça no próprio corpo. Hoje, prazer é acompanhar os micos pulando nos galhos das árvores enquanto rego minhas plantas na área de serviço, aqui no pricipado de Santa Teresa..
          Desenhar e redesenhar formas de uma zoologia fantástica faz parte do meu processo criador. Animais são minhas vísceras, meu centro ordenador instintivo.
          Já tive dengue, logo se deduz que aquele mosquito de nome horroroso já se acercou de mim. Só não me matou. Confesso que o zunir dos mosquitos é inacreditável pela potência, desproporção entre o tamanho do inseto e seu zumbir. É incrível. O mesmo se dando no reino das abelhas. Hienas, lobos e baratas, não. A “barata, o inseto monstruoso” de Kafka é inesquecível. Seres das profundezas das águas; beleza em movimento contínuo!
          O universo imagístico do povo chinês ao idealizar dragões nos encanta, e, a Ave Fenix da alquimia não fica por menos. São riquezas insondáveis como o símbolo da pomba do Espírito Santo.
          Dizia Nise da Silveira: “Eu me sinto bicho. Bicho é mais importante que gente. Pra mim o teste é o bicho, se não passar por ele, não tem vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho, é arrogante.”      Noutra ocasião ela nos disse: “Desprezo as pessoas que se julgam superiores aos animais. Os animais têm a sabedoria da natureza. Eu gostaria de ser como o gato: quando não se quer saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai. Não tem papo”.
          Gatos coroam minha cabeça, vivo com gatas. Minha casa é habitada pela presença sábia das gatas. Primeiro veio Sibila I, em 1972, que gerou Sibila II. Sua filha, Cabíria viveu 10 anos. Carolina, presente de uma amiga, foi a mais sábia das avós, viveu 16 anos e meio e Tigresa, sua filha, 16 anos. Tigresa mãe da Preta, a neta mais doce, meiga e encantadora que já tive. Preta, Pretinha é neta de uma linhagem do território do sagrado. A sensibilidade, a percepção sutilíssima e o mistério dos felinos são impossíveis de se descrever. Palavras são pobres já que estamos diante de algo além do entendimento, pertencendo as fronteiras do divino.
          Diante dos gatos silenciamos em reverência. Preta com quase 20 anos tudo acompanha, sabe e sinaliza. Minha deusa Bastet.
P. S. Não posso deixar de lembrar de Sophie, a encantadora gatinha recolhida na rua, angorá, novinha, negra como a noite, doente e tão frágil. Só viveu 2 anos - dengosa como nunhuma, intuitiva como dervixe.
 martha pires ferreira
Estátua em bronze da divindade egípcia Bastet, deusa da fertilidade e do amor.
 Cerca de 712-332 a. C.
Pretinha gosta de adormecer no meu ombro esquerdo. Momentos de quietude monacal. ______

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