"Sinto decepcionar você, mas não tem nada de magia nisso, como pensa os não ciganos. São coisas simples que aprendemos desde crianças e seu povo tenta envolver em mistério. O que para vocês é extraordinário, para nós, ciganos, é normal. Quando eu ainda era um menino, meu pai me ensinou a enxergar a vida observando os animais. O vaga-lume,, por exemplo, à luz dia do dia, é um inseto sem grande importância, mas à noite torna-se um pequeno farol que ilunima a escuridão dos caminhos e revela o que está oculto. A coruja só enxerga à noite e a respeitamos como possuidora de uma vidência especial. Com eles aprendemos a desenvolver a técnica do olhar, enquanto ainda é noite no mundo. Os gatos, que ficam à espera do melhor momento para caçar o rato ou pássaro, e não se precipitam, nos ensinam a deixar as coisas acontecerem sem forçar. Também, bem mais tarde, já casado, quando trabalhei no circo, conviver com os animais me ajudou a conhecer melhor as pessoas."
Uma linda Semente extraída de um diálogo entre os protagonistas, o cigano Latsi (Euclides) e o menino Jorge, do lindo livro que me encantou por me acrescentar um olhar o mais generoso e iluminar o preconceito que por décadas me acompanhou - um atributo da nossa cultura maldosa, que marginaliza o que não lhe é comum.
Agradeço a autora Cristina da Costa Pereira, dentro de alguns de seus talentos, uma estudiosa da cultura cigana há 25 anos, por tão linda expressão.
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