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sábado, 14 de janeiro de 2012

“Ai se eu te pego”: uma análise comparativa

Eu adorei isso! 
Já dizia o Apóstolo que a letra mata, mas o Espirito vivifica!

É preciso um bom olhar, naquilo que nos faz alegrar! A música é um deprentensioso convite a alegria. Tanto é, que até os soldados israelistas se valeram dela num dia desse. Imaginen isso, num capo de batalha, onde ronda a morte, um momento de desprentensiosa alegria?!?!?

Na na quinta-feira, li uma análise muito bem articulada do diretor do Jornal do Brasil, Reinaldo Paes Barreto - na coluna "Sociedade Aberta", que amei!

País - Sociedade Aberta

“Ai se eu te pego” - por que essa música explodiu como um fogo de artifício?

 

 

Muito fácil é malhar, esnobar, repudiar, desdenhar. Difícil é - no mínimo - tentar compreender! 
E adornar, tão belamente como aqui nesse texto. 

Eu não escuto essa canção no dia a dia, mas acho que é ótima (e segunda sua autora foi composta com esse propósito) para se dançar e comemorar a vida! 

(agora fala sério: se vc estiver numa festinha e tocar essa música, vai me dizer que vc não vai dançar?!?!?)
 


 
Marcelo e Cristiano Ronaldo comemoram um gol com a coreografia de “Ai se eu te pego”


Gabriel Perissé, 
no Correio da Cidadania


Analiso abaixo a letra da canção “Ai se eu te pego”, interpretada por Michel Teló, sucesso nacional e internacional. Na primeira estrofe, temos…

Sábado na balada A galera começou a dançar E passou a menina mais linda Tomei coragem e comecei a falar

Cada verso e cada palavra de Teló nos conduzem a universos paralelos da cultura. O primeiro verso faz menção ao “Porque hoje é sábado”, em que Vinícius de Moraes revê a criação do mundo.


A balada a que se refere Teló alude àquele antigo poema com que se narrava alguma tradição histórica, acompanhado ou não por instrumentos musicais. Ou àquela peça puramente instrumental como cultivavam Chopin, Brahms ou Liszt.

A supracitada galera (“turma”, “amigos”, “gente”) de Teló se equipara ao decassílabo “Vogo em minha galera ao som das harpas”, de um poema de Castro Alves.

Reportando-se de novo ao poetinha Vinícius de Moraes (“Garota de Ipanema”), Teló também contempla a menina linda que passa. E vai além. Em êxtase, tomado pela excitação poética, num ato de coragem extrema, o baladeiro se declara:
Nossa, nossa Assim você me mata Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego Delícia, delícia Assim você me mata Ai se eu te pego, ai ai se eu te pego
 
A dupla exclamação — “nossa, nossa” — nos remete à admiração de que falava Aristóteles como ponto de partida da reflexão filosófica, ou pode se tratar também de uma forma reduzida da interjeição “Nossa Senhora!”, inserindo o poema no amplo cenário (e não menor mercado) das composições religiosas.

Outra referência inconfundível é o locus poético em que amor e morte se encontram — o clássico “morrer de amor”. O verso “Assim você me mata”, que o cantor faz acompanhar com o abanar da mão em direção ao rosto (simulando morte por asfixia ou enfarte), equipara-se a momentos sublimes da poesia romântica de Gonçalves Dias ou Casimiro de Abreu. Há, entre outros exemplos, um soneto em que Camões, dirigindo-se ao Amor, com ele se queixa: “Que vida me darás se tu me matas?”
Aqui termina o poema de Teló, com uma concisão que lembra Paulo Leminski e Mario Quintana.

Mas parece que os imortais que acima citei não gostaram das comparações feitas aqui. Das suas tumbas erguem-se vozes, cantando em uníssono:

Perissé, Perissé Assim você nos mata!

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor.

foto: Jorge Guerrero/AFP

dica do Marcos Florentino


Um comentário:

Fabyola disse...

SÓ PARA LEMBRAR E ESCLARECER, ESSE TEXTO DO PERISSÉ, É UMA CRÍTICA DAS MAIS VIOLENTAS E BEM ESCRITAS A ESTE LIXO DE MÚSICA.

"Mas parece que os imortais que acima citei não gostaram das comparações feitas aqui. Das suas tumbas erguem-se vozes, cantando em uníssono:

Perissé, Perissé Assim você nos mata!"