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Dom Casmurro



"Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo..."


IV

Um dever amaríssimo!

José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às idéias; não as havendo, serviam a prolongar as frases. 
Levantou-se para ir buscar o gamão, que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e vi-o passar com suas calças brancas engomadas, pressilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez nesse mundo. Trazia as calças curtas para  lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um aro de aço por dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinquenta e cinco anos. Levantou-se com o passo vagaroso de costume, não aquele vagar arrastado dos preguiçosos, mas um vagar calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da conclusão. Um dever amaríssimo!


"Dom Casmurro"
Machado de Assis

Editora Nova Fronteira


Lá sentadinha no meu ônibus de todos os dias, belamente acompanhada por "Dom Casmurro", já comecei meu dia toda cheia de contentamento com essa leitura, já separada desde há meses e só hoje iniciada. 

(acordei inspirada, cantarolando no coração. É o inverno indo e a primavera chegando.)

Já no segundo  capítulo meu lápis Bic Evolution HB 02 (verdinho) já começa as marcações e rabiscos  corriqueiros, pois só sei ler assim (e por vezes exagero com uma dobradinha, orelha, no canto da  página mais admirada) e de preferência no ônibus, onde ninguém me interrompe e sou toda olhos para as letras.
A leitura já começa marcante e no finalzinho do terceiro capítulo, com o "amaríssimo" do final já me apaixonei. E o quarto, com esse título tão intenso, já sabia que seria o prelúdio dos que já se avizinham.

Amo quando encontro pedaços de mim recortados nos livro que leio. E "Dom Casmurro" já se afinizou comigo e ainda  mais daqui, atráves do apreço pelos superlativos. Essa coisa de intensidade.

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