Pular para o conteúdo principal

Alberto Caeiro


Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa,
Peço que, se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem,
Se assim aconteceu, assim está certo.


Mesmo que os meus versos nuncam sejam impressos,
Eles terão lá sua beleza, se forem belos.
Mas eles não podem ser belos e ficar por imprimir,
Porque as raízes podem estar debaixo da terra
Mas as flores florescem ao ar livre e à vista.
Tem que ser assim por força. Nada o pode impedir.


Se eu morrer muito novo, oiçam isso:
Nunca fui senão uma criança que brincava.
Fui gentio como o sol e água,
De uma religião universal que só os homens não têm.
Fui feliz porque não pedi cousa nenhuma,
Nem procurei achar nada,
Nem achei que houvesse mais explicação
Que a palavra explicação não ter sentido nenhum.


Não desejei senão estar ao sol ou à chuva ---
Ao sol quando havia sol
E à chuva quando estava chovendo.
(E nunca a outra coisa), 
Sentir calor e frio e vento,
E não ir mais longe.


Uma vez amei, julguei que amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão ---
Porque não tinha que ser.


Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para  os que são amados
Como para os que não são.
Sentir é estar distraído.


poemas completos de
Alberto Caeiro
heterônimo de 
Fernando Pessoa

Editora Nova Fronteira


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Free Sound Orchestra : If You Want More

Por causa de   Patricia Kaas  em  Ain't No Sunshine e sua bela interpretação para essa canção parte da trilha sonora da inesquecível Selva de Pedra (no tempo que novela era uma coisa bela e intrigante - falo de Roque Santeiro, Gabriela, Saramandaia e tantos maravilhosas -  e não essa chorumela  picante da atualidade) que penso termos em casa em vinil e não resisti a torná-la conhecida. Afinal Selva de Pedra, a original, aconteceu em 1972, acho. (Cresci assistindo tv e por isso gosto tanto dela!  Um dia falarei do que aprendi assisitndo tv.) Escolhi essa como a primeira. Ouça que lindíssima!

~Achando~🌹

Saindo para fazer minhas provinhas. (achando que engordei😱) Os cabelos cortarei após o dia 9, quando tentarei uma.consulta na Sta Casa. E as doutoras precisam ver meu cabelo.🙏

~No meu tempo de mocinha~🌹

 Com sono, mas até agora em frente a tv para acompanhar o desfile das escolas de samba de São Paulo. Primeira escola a ~Aguia de Ouro~ homenageando o cantor Benito de Paula, razão pela qual ainda estou aqui. Acabou o desfile. Deixa então eu contar. Quantas canções do Benito de Paula já embalaram minha alma no meu tempo de mocinha.  A escola belíssima e colorida e com um desfile e enredo leve  para alma e embriagante para o olhar, tamanha a beleza da multiplicidade de elementos e cores usados. Aplausos.  O samba enredo relembrando partes de canções que cantadas por Benito e acompanhadas pelo seu sempre piano. Inclusive soube durante o desfile que Benito di Paula introduziu o piano no mundo do samba, já que sempre se apresentava cantando ao piano. A escola de samba utilizou 4 de suas canções para compor seu samba enredo. Oucamos. Amei que o samba tenha homenageado quem tanto o amou e nos embalou com suas belas canções. Essa quinta e última canção, é por minha minha e...