Lucíola cumpriu sua viagem em mim mas deixou-me belas paisagens para colorir, ainda mais, minha alma.
Tentarei compartilhar algumas aqui, quando a alma pedir.
Uma delas está nessa passagem:
"Deixei cair algumas pedras no tanque. Não se sei que impressão triste fez sobre o espirito a plácida imobilidade da onda, que desafia o homem a quebrar a quietude da natureza. Os olhos acompanham então com uma indefinível satisfação os círculos concêntricos que surgem à tona e vão-se dilatando até correr nas margesn dos lagos.
Ia atirar uma nova pedra, quando Lúcia, que eu supunha ocupada com o seu trabalho, reclinou-se para mim, de mãos, e disse-me com uma voz angustiada:
- Não! Cotadinha! Tenha pena dela!
Encarei com Lúcia: seu rosto traia um aflição profunda. De supreso, deixei cair a pedra.
-Oh! Como deve sofrer! balbuciou ela mostrando-me com a mão trêmula a água que se toldava e enegrecia.
- Que é isto? Em que estás pensando, Lúcia? disse apertando-lhe as mãos com força.
Volveu para mim os olhos vagos; contemplou-me um instante e riu:
- Uma loucura! ... Não sei como me veio semelhante idéia! Vendo esta água tão clara toldar-se de repente, pareceu-me que via minha alma, e acreditei que ela sofria, como eu, quando os sentidos pertubam a doce serenidade de minha vida."
Assim como a personagem Lúcia por vezes me vejo espelhada nas coisas, principalmente aquelas que conquistaram minha dedicação.
Como as minhas duas florzinhas tão amorosas que tenho em casa.
Essa
agorinha pela manhã
e essa
dia 12
Quando tento compartilhá-las em outro lugar que não seja aqui, fica o sentimento de que Lúcia expressou:
"pareceu-me que via minha alma, e acreditei que ela sofria, como eu, quando os sentidos pertubam a doce serenidade de minha vida."
Tirá-las daqui é como pertubar a serenidade de minha alma. E se aqui as exponho com tanta naturalidade é porque aqui minha alma se sente em casa.
"Juntando os Pedaços" é meu altar. Onde deposito minhas algrias e agonias e o faço por saber que aqui só entra quem vem pela obra do destino ou muito criteriosamente por mim selecionado, ou seja, convidado. O que é quase uma raridade.
Só que essa sensação de incômodo de ir para outros lugares com minhas coisas me pertubava pois não a entendia e sentia-me um ser diferente.
Numa era em que as pessoas se expõem gratuitamente, falam de sua intimidade como se falassem da compra de um bem de consumo, de um passeio, uma viagem, como se falam de ameninidades e enumeram pormenores de sua vida sem um mínmo de recato na alma, e ainda encontram respaldo - de si e de outros - no argumento de que é expressão de sua humanidade; sentia-me um ET, um monstro pelo meu recato, mas não infeliz por isso. E nas páginas mudas (?) de Lucíola, encontrei parceria , afinidade com minha singular alma. E isso é uma dádiva.
Jão não me sinto tão desigual e agradeço a José de Alencar, pois já não me sinto tão só na minha complexa, e inusitada, sensibilidade.
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